Arthur Muhlenberg: “É pau, é pedra, é Libertadores”

As águas de março, que tradicionalmente fecham o verão brasileiro, ainda nem botaram a cara, mas com o que tem chovido em fevereiro já dá para se ter uma ideia do que os próximos dias nos reservam. Tempo muito instável, com possibilidade de pancadas ocasionais e muitas trovoadas. Principalmente durante os próximos 88 dias em que o Flamengo disputará a sua sobrevivência na mais importante competição do continente. Para a torcida serão noites e noites sem sono e dias de inescapável tensão. Brilhar na Libertadores da América e, pelo amor de Deus, caras!, não pagar memoráveis micos internacionais, se tornou para o Flamengo uma questão de honra.

Ou pelo menos deveria ter se tornado, porque nas ultimas vezes em que o Manto Sagrado desfilou sua mística pelas canchas da América, o Flamengo, a despeito do seu tamanho e natural protagonismo, não fez um papel nada bonito. Muito porque no Flamengo, há muito tempo, a Libertadores tem sido tratada como prioridade, mas só até a pagina 2. Ao menor sinal de que a disputa paroquial do irrelevante Carioqueta poderia ser prejudicada pelo contingenciamento de esforços em favor da Libertadores as forças do atraso, que muitas vezes atuam involuntariamente, jamais hesitaram em exercer seus poderes e subtrair ao Flamengo qualquer chance de êxito continental.

Enquanto essa mentalidade não mudar de verdade nos gabinetes da Gávea as chances de êxito do Flamengo na Liberta continuarão circunscritas à casualidade. Se para a torcida, vencer a Libertadores é uma justa obsessão, ainda falta aos dirigentes oferecer as provas inquestionáveis de que estão nesse fechamento. Já são 10 anos redondos desde a última vez em que o Flamengo conseguiu disputar a Libertadores em duas edições consecutivas. Não temos o direito de desperdiçar essa oportunidade de remissão. Jogar a Libertadores todos os anos, que hoje quer dizer pouco dada a liberalidade com que se definem seus participantes, foi durante muito tempo uma meta insistentemente cobrada pelos torcedores.

Que acreditavam, não sem muita razão, que a familiaridade com as características únicas da competição sul-americana era uma condição obrigatória aos reais postulantes à sua conquista. O canetazo da Conmebol que transformou a admissão à Libertadores na Festa do Caqui onde hoje a entrada de qualquer frequentador de rebaixamentos é franqueada tirou das costas do Flamengo a responsabilidade de mandar bem no Brasileiro ou ganhar a Copa do Brasil todo ano. Beleza, demos sorte nessa. Mas a partir deste ponto não tem CBF, Conmebol, FIFA ou Anistia Internacional pra dar um help, o Flamengo só conta consigo mesmo. E se o Flamengo der mole as entidades supracitadas estarão entre as primeiras a nos fuder. Vide o rigor com que fomos punidos pelos furdunços na final da Sul-americana.

Estrear na Liberta contra o River Plate em um jogo amputado pela ausência da torcida é um anticlímax, a negação do que temos de melhor a oferecer aos deuses do futebol. Que é a festa e a furiosa carnavalização, artes nas quais os rubro-negros são insuperáveis. Mas com portões fechados ou abertos o Flamengo nunca está sozinho. Terem marcado esse jogo no Vazião de Engenho de Dentro não deixa de ser uma fina ironia. Um lembrete aos mais empolgados de que hoje não é festa. Que também pode ser entendido como uma metáfora do que deve ser feito ao longo de uma competição onde o Flamengo terá que provar a cada dia e a cada decisão tomada a correção da sua ética de trabalho.

Ao definir ética, Oscar Wilde dizia que é o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamam de caráter. Pois que na noite de hoje, simbolicamente longe do olhar da torcida, o Flamengo mostre, sem fazer economia, a extensão e a materialidade do seu caráter. Não ser capaz de superar a fase de grupos da Libertadores pela terceira vez consecutiva não pode ser uma opção. Seria o fundo do poço, seria o fim do caminho.

Mengão Sempre

Reprodução: Arthur Muhlenberg

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