Blog Ser Flamengo: “Eu sou machista! Machismo no futebol!”

Pensei bastante em como abordar este assunto aqui no blog. Então, antes de mais nada, vale a pena contextualizar o machismo como eu vejo e como isso leva com que tenha influência direta no futebol, no trabalho, no dia a dia…

O machismo é cultural na nossa sociedade. Segundo o dicionário, machismo é um ““sistema hierárquico” de gêneros, onde o masculino está sempre em posição superior ao que é feminino”. E machista é o indivíduo que pensa e age dessa forma. Olhando a história desde os tempos primitivos, a mulher sempre foi colocada em posição inferior ao homem. Desde os tempos das cavernas, dos Homo sapiens, o homem tinha a tarefa de caçar e a mulher a tarefa de cuidar da casa (caverna ou o que seja) e dos filhos. Isso também é encontrado nas religiões. A Bíblia por exemplo, na minha opinião, é um dos livros mais machistas e que coloca a mulher em posição inferior ao homem. Há estudos sob o ponto de vista cientifíco-filosófico sobre isso. A mulher é submissa, tem menos direitos e deve sempre servir o homem. O mesmo vale para as religiões islâmicas. Mulher não pode votar, ser votada, jogar ou assistir futebol e etc…

Essa forte influência foi passada de geração para geração. O homem é o dono da casa, ele trabalha porque é “mais forte“, cabe a mulher, o “sexo frágil“, o papel de cuida do lar, tarefas julgadas mais fáceis. Eu cresci lendo, vendo e ouvindo isso. Não de um homem, mas da sociedade. Quando meus pais eram casados, era meu pai quem trabalhava, minha mãe cuidava da casa. E tudo girava em torno dele. Futebol eu aprendi com meu pai, mesmo ele torcendo para um time oposto ao meu.  Quantas vezes você já não ouviu de homens e mulheres a frase: “Futebol não é coisa de meninas”?

O futebol sempre foi um espaço ocupado amplamente pelos homens. Seja no campo, na arquibancada e na sua cobertura. Cresci vendo como exceção a mulher no meio. Pelo menos era  o que pensava. Quando comecei a ir aos jogos do Flamengo no Maracanã ainda na infância, via poucas mulheres na arquibancada, trabalhando então… Leitor voraz do Jornal dos Sports, não lembro de nenhuma mulher colunista ou que cobrisse os jogos. A primeira jornalista que lembro na grande mídia é de Marília Ruiz, no jornal Lance!. Eu a via como exceção e até confesso que o que mais me chamava atenção era a sua beleza mesmo ela sendo muito boa em suas análises. Mas tudo isso também se deve por total desconhecimento da história.

Em 2016, gravando e produzindo um documentário sobre a Charanga do Flamengo, descobri a importância de diversas mulheres torcedoras. A primeira delas, Dona Laura, esposa de Jayme de Carvalho, fundador da primeira torcida organizada do Brasil. Sem ela, talvez Jayme não tivesse realizado tudo o que fez. Da Charanga, nasceu a Torcida Jovem do Flamengo, tendo em sua liderança, Tia Helena. Um pouco antes da Jovem, nasceu a TOV, Torcida Organizada do Vasco que tinha como uma de suas lideranças, Dulce Rosalina, a primeira mulher a presidir uma torcida organizada no Brasil. Dona Laura só foi assumir a Charanga após o falecimento de Jayme de Carvalho. Em entrevista ao documentário, o jornalista David Butter me contou que nos anos 30, havia no Flamengo um grupo de torcedoras que se reuniam no clube para torcer pelo futebol. Era a Falange do Flamengo. Resumindo, as mulheres são tão pioneiras quanto os homens e se hoje é difícil para as mulheres simplesmente torcer, discutir e debater futebol, imagina nos anos 30, 40, 50, 60, 70….

Em 2011, quando criei o Blog Ser Flamengo, descobri o programa LuluCast no Youtbe. O programa era formado somente por mulheres: Dani SoutoNivinhaCris Marassi e Cissa Morena. Eu adorava aquele programa, mas o que me chamava atenção não era o conhecimento e nem o domínio delas no assunto, mas o fato de ser mulheres. No meu pré-conceito, era curioso mulheres falarem de futebol daquela forma, como homens. Olha o machismo aí! Na verdade, elas falavam como qualquer pessoa que acompanha e analisa o assunto e em nada tinha com o gênero, mas só fui ver isso mais tarde com a chegada de outras mulheres no meio virtual com outros blogs e vlogs no Youtube. Elas entendem de futebol ou de qualquer assunto relacionado ao Flamengo tanto ou mais do que eu. Vivi Mariano quando cobria a política do Flamengo no blog Magia Rubro-Negra, me inspirou muito no que faço até hoje. Vivi fazia entrevistas e análises como poucos dentro dos bastidores políticos do clube. Uma coisa que reparo quando edito os vídeos da Nivinha para o seu canal no Youtube, são os comentários. Em sua maioria, os homens quando não concordam com suas análises, tentam desconstruir seus argumentos com frases do tipo: “Só podia ser mulher para falar isso“, “É bonita, mas fala merda” e por aí vai. Isso quando os comentários não se resumem aos atributos físicos. Puro machismo! Mas é bom ver que mais mulheres estão tomando seus espaço como a Bianca e YancaJúlia MattosPaula Alvarenga… Isso dentro do universo do Flamengo. Como pode em pleno 2018, a Fox Sports ganhar elogios como se fosse algo muito diferente ao colocar mulheres para narrar e comentar jogos da Copa do Mundo? Foi pioneira sim, mas mostrou o quanto estamos atrasados.

Hoje eu me policio bastante com tudo isso. E olho as mulheres dentro do esporte de uma maneira completamente diferente de alguns anos atrás. Isso eu procuro levar para o meu dia a dia. Minha filha adora jogar bola e o fará sempre que quiser. Hoje, as Nivinhas, Vivis, Biancas, Marílias vão cimentando o espaço que minha filha pode ocupar amanhã com mais liberdade, menos preconceito e machismo no futebol. Assim foi com Dona Laura, Tia Helena, Dulce Rosalina nos primórdios. Elas abriram o caminho para as mulheres de hoje. Vale lembrar que o caminho é longo. Na política dos clubes, as mulheres são minoria da minoria. No Flamengo, clube elitista por dentro, mostra um pouco dessa realidade. São poucas (aliás, quase nenhuma) mulheres na política, nos Conselhos, assim como negros. Isso revela muito sobre o clube. Tivemos recentemente Patrícia Amorim como presidente, a primeira na história, mas depois dela, não temos mais nenhuma expoente mulher na política do Fla. Nós, homens, devemos ajudar nisso também.

É importante ressaltar que não tenho ideologia política e muito menos quero me tornar ou militar na causa feminista, só quero ser justo e reconhecer que pessoas são pessoas com direito a seus espaços!

Não tenho vergonha de admitir o meu machismo e que ele ainda é presente no futebol, no meu clube de coração, mas estou a passos largos o tirando de campo, da arquibancada e da minha vida.

Tulio Rodrigues

Reprodução: Blog Ser Flamengo

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