Arthur Muhlenberg: “O vício foi mais forte”

Adiantou pouca coisa ficar cornetando e denunciando religiosamente o reduzido valor do carioqueta  desde a sua primeira rodada. A recusa em comparecer aos estádios durante o rural, tradição pessoal inaugurada em 2017 (fomos campeões), até que foi fácil manter. Mas a verdade é que esse ano assisti a todos os jogos do Flamengo no campeonato que não vale nada e até escrevi sobre alguns deles.

Sempre digo que o Carioca é uma droga recreativa leve, de efeito muito rápido e baixa persistência. E como todo doidão costumo em seguida meter uma das mais usadas mentiras da adicção, a de que estou no controle do uso da substância e posso parar sempre que eu quero. Uma pinoia que posso parar! Só quem é que sabe o perrengue. O campeonato é vagabundo, mas é muito viciante. Fui totalmente fisgado. É  madrugada de domingo e estou aqui me perguntado: o que esperar desse Flamengo x vasca pela decisão da Taça Rio?

O antídoto universal do veneno da decepção é a manutenção de baixas expectativas. Espero nada desse jogo. O Flamengo só chegou à final da Taça Rio porque o Flor estava muito mais focado em perder o Fla-Flu do que nós. Mas não acho que do nosso lado alguém estivesse se importando muito com o resultado. Mais nos valeria um domingo de folga antes de encarar o Peñarol, mas os tricoletes provavelmente estavam mais cansados e preferem secar a vasca do que ganhar seus jogos. Ô timinho.

A vasca também não chegou chegando na final, se não fosse o incrível apagão do Volta Redonda em casa diante do Boavista na última rodada o bacalhau ia passar o domingo cotando preço de caminhão-pipa ou juntando garrafa velha pra vender. E lá vamos nós outra vez fazer um jogo caça-níqueis quase amistoso, com os dois times já classificados pras semifinais do campeonato. A chance de ser um jogão é mínima. Deveria ser realizado de portões abertos, pro povo invadir e dar algum sentido maior ao evento.

Seria muito melhor não fazerem o jogo, dá a Taça Rio aí pra qualquer um, ninguém se importa. Mas o problema é que tem aquele buraco de duas horas a ser preenchido antes de começar o Faustão. Em vez de passarem um filme maneiro pra crianças sossegarem depois do almoço preferem vilipendiar o clássico do milhões. Já dá pra visualizar os milhões de barrigudos roncando nos sofás desse nosso Brasil que voltou a crescer enquanto os dois times se engalfinham no gramado. Pelo menos esperamos que se engalfinhem.

Pro rubro-negro o jogo é tão chocho que até os motivos para comemorar uma improvável derrota já foram explanados nas redes sociais. Não consigo entender isso de encontrar o lado bom em perder um clássico, mas o futebol se modernizou e o torcedor também. O sujeito agora além de ser Flamengo tem time na NBA, na NFL, na Liga Inglesa e o escambau, e é todo desconstruído. Comemora tudo, classificação, arrecadação, patrocínio, page-views, defesa de goleiro e bico pro mato de zagueiro.

Pena que nessa hiperatividade comemorativa perder pro nosso vice-bacalhau deixou de ser uma abominação. Me desculpem os companheiros, tanto os da resistência quanto os modernos, mas nessas paradas aí sou conservador. Continuo sendo contra a tortura, contra a educação pública militarizada e não esperando nada do jogo. Mas ainda acho que não pode perder pra vasca de jeito nenhum. Muito menos no rendez-vous de hoje no Maracanã pelo traço grotesco da data nefasta.

Porque se for pegar jogador por jogador de Flamengo e vasca não tem nem graça. O Mengão humilha. Só nos manicômios em forma de mesa redonda que se tem o desplante de equiparar as duas equipes e dizer que é um jogo equilibrado. É a famosa falsa simetria, um desvio comunicacional muito em voga nos dias de hoje. Não caia nessa.

Fala sério, imprensa esportiva, vamos parar de caôzada! O Flamengo é muito superior ao vice em todas as posições, com exceção da lateral direita. O resto é supremacia rubro-negra acachapante. Mesmo não valendo nada, mesmo focado na Libertadores, mesmo preferindo pegar o Bangu na semi, mesmo com dor de dente, caxumba e diarreia o Flamengo tem obrigação de esculachar com o bacalhau.

Onde é que nós estamos? Ninguém esqueceu aquele empate safado na TG com pênalti inexistente pra eles nos acréscimos. Tem quase duzentos anos que não ganhamos da baranga. Quer ser campeão do mundo como? O Flamengo já entra em campo devendo. E tem obrigação de jogar tudo o que sabe, não pelo sub título da sub taça, mas apenas pela própria honra. Se o preço da nossa honra for ter que jogar mais um Fla-Flor nesse Carioca interminável e sem-vergonha nós o pagaremos com gosto. Sejam sérios no domingo. Segunda-feira é o dia dos bobos. Pau na baranga. Ditadura Nunca Mais!

Por Arthur Muhlenberg / República Paz e amor



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