Mansur: “A fábrica de crises”

O futebol brasileiro vive um grande paradoxo entre discurso e prática. Há quase um consenso, inclusive entre dirigentes, de que os longos três meses dedicados aos Estaduais são um excesso num mundo globalizado. Ao mesmo tempo, raros são os atores realmente dispostos a mexer no calendário: a estrutura de poder e até as cotas pagas a clubes acomodam interesses.

Enquanto a temporada é apenas um projeto, prevalece o discurso de que os Estaduais não são um fim, mas um período de formação de times. Mas o que se faz diante de resultados ruins? Dos 20 clubes da Série A, cinco demitiram treinadores.

É dos Estaduais, hoje, o mais incômodo dos papéis. Conquistas não servem como medida de êxito; derrotas vitimam profissionais com a voracidade habitual de um país sob a ditadura dos resultados. Ou seja, são uma fábrica de crises.

Quando a derrota incomoda tanto a arquibancada, quando o planejamento não resiste a um clássico mal jogado ou um Estadual perdido, alguns sinais merecem análise. Um deles indica que, após uma interminável procissão de jogos sem desafio técnico e apelo popular, as finais exercem atração. Seja pela história, pelo gosto do brasileiro por decisões, ou pelas rivalidades locais — ou um pouco de cada coisa. Brasil afora, tem havido bons públicos, alguma mobilização. O contrassenso, em pleno 2018, é a duração destes torneios, hoje anacrônicos.

A tese dos jogos que “não valem nada” sucumbe à forma como os clubes reagem aos resultados e às pressões, expondo como são governados de fora para dentro. No Brasil, projetos de futebol sucumbem a ações que soam como uma satisfação ao meio externo.

A atual crise do Flamengo é um exemplo nítido. Faz mais de um ano que, revitalizado financeiramente, protagoniza o mais radical descasamento entre poderio econômico e realizações esportivas. Entre trocas de treinadores, montagens e remontagens de elenco com temporadas em andamento e construções de times com desequilíbrios, o clube exibia dificuldade de planejar seu futebol. Mas foi necessário um resultado, com o terceiro mês de 2018 terminando, para uma ruptura que, de tão radical, transforma em incógnita o restante do ano. Apresenta-se mais um recomeço.

Rotina no país, o Flamengo iniciou o ano com uma estrutura em que, no próprio clube, pouca gente acreditava. A começar por Paulo César Carpegiani, feito técnico após ser contratado como coordenador. Em sua apresentação oficial, o próprio treinador fez questão de ressalvar sua condição provisória. A falta de convicção reinante já fazia dele um personagem vulnerável. A má qualidade do jogo não o auxiliava mas foi preciso um resultado para que o meio externo criasse o ambiente para a reação interna.

Encerrado o jogo que levou o Botafogo à final do Carioca, o vice-presidente de futebol rubro-negro, Ricardo Lomba, usou termos como “vergonha”, “vontade”, “garra”. Justamente os tópicos que mais comovem a audiência num país fascinado muito mais por “alma” do que por projetos de futebol. Não é coincidência que questões anímicas haviam se tornado diagnóstico consensual na torcida rubro-negra. Elas são parte do jogo, não se trata de desprezá-las, tampouco desfazer da firmeza do dirigente. Mas o próximo desafio é construir processos de futebol, algo que o Flamengo não tem respeitado.

No domingo, começa abril. O Flamengo tem pela frente uma corrida contra o tempo.

Reprodução: Carlos Eduardo Mansur | O Globo

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